domingo, 2 de dezembro de 2012

Para Alice - 2


Alice,

Nesse momento você está dormindo, com a respiração difícil por causa de um resfriado, mas com o plácido rosto de anjo de sempre. Aproveitei seu sono e acabei de assistir a um filme chamado “Lemonade Mouth”, da Disney. É sobre uma banda de adolescentes, que usam a música pra se expressar. E cada um com um conflito familiar diferente.

Além de chorar com a história fofinha (sua mãe é uma manteiga, sorry), fiquei imaginando qual será o seu conflito de adolescência em relação a mim. Será que vai me achar mandona? Ausente? Que vai ter vergonha de mim por algum motivo? Princesinha, vai chegar a hora que você vai começar a enxergar mais profundamente meus erros. E vai me julgar. E desde já peço desculpas, mas fica a dica: você também não – embora para mim seja o mais próximo de pessoa perfeita que existe.

Ninguém é perfeito, amorzinho. Assim como nossa relação não é. Não se choque nem se magoe, mas várias vezes quando mais eu queria ficar sozinha era quando mais você queria minha atenção. Às vezes fui chata e abusada com você, me perdoe, meu amor. Não foi por mal. É que a mamãe é meio esquisita mesmo, gosta de ficar um tempo quieta, pensando. Não encare isso como desamor, nunca. Tenho por você o maior amor do mundo, minha filha. Do universo. Sempre.

Pois é, vendo o filme, comecei a temer o momento em que, quando sua adolescência chegar, você vai achar que me odeia, e vai querer ficar bem longe de mim. Vai ser uma dor imensa e agoniada para mim, mas juro que vou me esforçar o máximo para te entender. Porque essa fase faz parte da vida. Espero que ela seja o menos dura possível para nós três, e que seu pai e eu consigamos ser o que você precisa quando esse momento chegar. Aí vem a questão: o que você precisa nem sempre é o que você quer.

Como sua mãe, vou sempre achar que sei o que é melhor para você. E vou acertar na maioria das vezes, então me dê um crédito. Mas se eu errar feio, me mostre, mas com carinho, que sua mãe é sensível, viu? Eu briguei boa parte da vida com o seu avô Pedro porque o achava autoritário demais, protecionista demais. Mas quando você veio ao mundo, minha pequena, vi que ele apenas tinha convicção do que era melhor para mim. Nem sempre ele acertava, lógico. Mas só quando ele se foi tive a dimensão do quanto ele cuidava de mim e me protegia. Dói saber que eu deveria ter sido ainda mais grata a ele enquanto ele estava entre nós.

O problema é que os pais não conseguem acompanhar a velocidade com a qual os filhos mudam. A gente para na fase que vocês deixam a gente ficar mais pertinho, geralmente a infância. E, não importa a idade, filho sempre é um bebê para os pais. Portanto, se alguma vez eu te subestimar, me perdoe, filhota. É porque a mamãe sempre vai achar que é cedo, que você pode se machucar. Nunca será por achar você incapaz. Até porque, não sei como você será quando crescer, mas até o momento você se mostra uma criança extraordinariamente excepcional.

Você tem potencial para dominar o mundo, e fazer dele um lugar melhor, minha filha. E já faz. Uma vez, você disse para sua avó Lúcia que queria ser grande para cuidar das pessoas. Mal sabe você que já cuida, porque não tem quem não se contagie pela sua alegria e doçura. Se continuar assim, já estou mais que satisfeita, já vou achar que fiz bem meu papel de mãe.

Seu avô sempre me perguntava quando minha adolescência ia passar. Mando uma triste resposta para ele, lá para o céu: acho que nunca. Eu continuo abusada, contestadora, indecisa, dramática. Eu nem sei ainda direito o que quero ser quando crescer! Quer dizer, sei sim: a melhor mãe e esposa do mundo. O resto vou experimentando e tentando, até achar meu caminho. Aceite esse conselho: nunca desista de achar o seu caminho, e principalmente de se achar.  E se lembre sempre: estou ao seu lado, e dou minha vida pela sua felicidade. Te amo, meu amorzinho. Sempre e mais do que cabe neste mundo.

Beijos da mamãe