sexta-feira, 7 de junho de 2019

Para o meu coração



São 2h30 da manhã e cá estamos nós, porque você não me deixa dormir. Você insiste em bater de um jeito estranho, de um jeito dolorido. Porque insiste em bater mais forte pela pessoa errada. Mas não apenas a pessoa errada. É a pessoa impossível. Entenda: o problema não sou eu (ou não somos nós). Na verdade, nem ele. A questão é: aceite que o coração dele não acelera por mim. Nem por mulher alguma. A chance do 0,01%, a exceção já existiu e não foi você. E, como bem sabemos, um raio não caiu duas vezes no mesmo lugar.

Por favor, para de me fazer sentir dor e me fazer chorar como você está fazendo neste momento, enquanto escrevo. Tenta entender que deixar para lá é o melhor a fazer. Eu te entendo, eu juro que te entendo, foi realmente muito fácil criar sentimentos por ele. Eu sei que ele me faz sentir bem e viva de um jeito diferente. Eu sei que ele é especial e diferente de uma forma muito boa. Tão bonito, tão compatível comigo, tão doce (embora agridoce muitas vezes), tão fora dos padrões do mundo e dentro dos meus (se bem que não posso mais dizer que tenho padrões. Tenho desejos, idealizações, tem coisas e simplesmente me mexem).  

Eu sei que, na teoria, teria tudo para ser a pessoa perfeita para mim. Mas a realidade é outra e não pode ser mudada, porque não depende de escolha. Mas isso que você está sentindo, sim, depende. Vamos escolher guardar esse sentimento em um lugar diferente, transformá-lo em outra coisa? Por favor, me deixa tê-lo na minha vida como amigo, porque se você continuar doendo por ele assim, eu não vou conseguir. Você já foi tão machucado, tão quebrado, e ainda não aprendeu? Só estou tentando ajudar a se preservar de dores desnecessárias. Prometo te encher com outras alegrias, vindas de conquistas, de lugares bonitos, da família, de amizades especiais, e quem sabe futuramente até outro amor. Mas este que está em você agora, deixe ir. É para o nosso bem.

sábado, 19 de novembro de 2016

Para o meu corpo

Eu quero te pedir perdão. Por todos os anos em que te odiei, que achei você feio, esquisito, inadequado. Por te achar magro demais, e depois gordo demais - quando você ainda era magro. Por te fazer passar fome e vomitar para diminuir, e, anos depois, por te encher de comida até além do limite para aliviar minhas dores e ansiedades. Por tratar você tão mal por anos. Por não te dar o carinho, a atenção e o cuidado que você merecia. Por não consegui impedir que pessoas fizessem coisas ruins com você.

Queria te contar que estou mudando, e que meu sentimento por você muda a cada dia - para melhor. Hoje eu posso olhar no fundo dos seus olhos (através do espelho) e te dizer: eu te amo, de verdade. Obrigada por suportar tudo sem reclamar muito - tirando uma estria aqui, uma celulite ali, uma mancha acolá, mas que são nada diante do que você já aguentou. Estou feliz com você, e talvez nesse momento "lua de mel" eu pareça despreocupada, mas é que depois de tantos momentos ruins, a gente merece uma folga, relaxar um pouco. Afinal, mudamos tanto, né? É como se eu estivesse te conhecendo agora. Por isso eu tenho te mimado, te colorido um pouco.


Obrigada por ser meu lar. E por ter sido lar da minha filha por nove meses. E por ser aconchego para pessoas queridas através do abraço. Por ser meu. Prometo tentar cuidar melhor de você e te amar mais e mais a cada dia. Estamos juntos até o fim. E nunca se esqueça: você é lindo exatamente do jeito que você é.  

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Para L

Dizem que somos água e óleo. Esquerda e direita. Diferentes demais. Mas com os joelhos no chão, todas as noites eu oro para que sejamos fogo e gasolina. Que o balde de água fria do desinteresse que você me jogou ferva, e que da frieza nasça o calor.  Que haja em você o mesmo calor que vem me queimando, me tirando de mim. Eu oro, eu penso, eu quero. O tempo todo.

Não nego nossas diferenças. Nem tenho como esquecê-las, já que todo o tempo me lembram delas. Mas eu gosto de você do jeito que você é. A única coisa que eu mudaria em você seria o fato de você não concordar que devemos ficar juntos. De todas as nossas divergências, essa é a unica que realmente me incomoda. Me dói, na verdade. E muito.

Eu tentei deixar para lá, esquecer. Mas eu simplesmente não consigo. Se eu peço a Deus pra te tirar de mim, a dor no peito é maior ainda do que saber que você não gosta de mim do jeito que gosto de você. Então eu oro por um milagre. Mesmo sem nenhum sinal de recíproca, eu sigo acreditando que sim, é possível um dia ficarmos juntos. Pra muita gente, isso é sinal de loucura ou de burrice. Pra mim, é fé.

Eu agradeço pelo tanto que você já me transformou. Por me ensinar, de verdade, que é possível amar quem me é diferente. Quem tem pensamentos tão opostos aos meus. De um jeito que me faz reforçar tudo o que eu acredito, tudo o que penso, e gostar de você, querer estar ao seu lado mesmo assim. Por que e apesar de.  

Eu quero estar com você. Poder saber tudo sobre você, dos maiores segredos aos detalhes mais bobos. Ver filmes que eu detesto, mas ao seu lado. Vibrar com as suas músicas. Brigar por causa das ideias diferentes e fazer as pazes no instante seguinte. Eu quero fazer você rir com as minhas bobagens. Cuidar de você. Poder segurar a sua mão quando os momentos difíceis vierem. Quero servir ao Senhor com você. Quero poder fazer a diferença na sua vida. E que a gente pudesse seguir juntos, lado a lado, com Deus à frente, nos guiando e nos cuidando. 

Fácil não seria. Mas eu prometo que faria o meu melhor. Que te respeitaria, te protegeria e te amaria. Parece louco e exagerado, mas eu sou louca e exagerada: sim, eu te amo.

domingo, 25 de outubro de 2015

Ao meu grande amor

Eu já quis muito saber onde você está. Muito mesmo. Era o pensamento que dominava minha cabeça o dia todo, todos os dias. Não importava se eu tinha ido bem na prova, ou se tinha arrasado no novo corte de cabelo, ou se tinha rido muito com meus amigos. Parecia tudo estranho, pareceria que não tinha graça se você não estava lá para eu contar tudo isso. Era uma sensação tão forte de incompletude que eu não sei explicar.

Sempre te amei de graça. Mesmo sem saber quem é você, se é uma pessoa legal, se gosta das mesmas coisas que eu. Se ia me abraçar bem forte quando eu chorasse, ou me acompanhar naquele evento chato só pra não me deixar ir sozinha, se ia dançar comigo na sala, se ia ter paciência com minhas loucuras. Se ia orar pela minha vida. Se ia me amar. Eu te amei incondicionalmente.

Mas você me decepcionou. Quando eu não passei no primeiro vestibular, e passei no ano seguinte, você não estava lá. Quando eu mudei duas vezes de curso na faculdade e finalmente decidi o que queria fazer da vida, você não estava lá. Quando eu chorei por cada cara errado que eu pensava ser você ter partido meu coração, e quando chorei porque você não aparecia nunca, você não estava lá. Nem quando eu pensei em desistir da vida, nem quando eu dei a vida a minha filha. Em nenhuma lágrima e em nenhum sorriso. Você não estava aqui, junto a mim. Continua sem estar. Sem ser.

E quer saber? Agora eu aprendi a me virar sozinha. Eu não sei de tudo, mas do meu jeito, moldado por cada porrada, por cada lição e por cada acerto que a vida me permitiu ter, eu consigo ficar bem. E, alheia aos momentos de tristeza - que ora aparecem mais, ora menos - eu sou feliz. E tudo o que guardei para você, todo o amor, eu resolvi dar, de várias formas, para outras pessoas que merecem mais. E principalmente para mim mesma. 

Se eu disser que não sinto sua falta estarei mentindo. Mas cada vez sinto menos. E apenas aguardo o dia em que simplesmente não vou mais me lembrar de você, nem da dor que sua ausência me causou tantas vezes. Porque tantos outros amores, mais presentes, mais fortes - como o por Deus, pela minha filha, minha família, trabalho, amigos, por mim - me preenchem cada vez mais. Porque agora eu entendo que o hoje e o amanhã continuarão sendo lindos sem você. Por enquanto, fica aí onde você está, que aqui eu sigo bem.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Para Roberta

Nós nunca tivemos uma boa relação. Por uma simples razão: você nunca me amou como eu sou. Nunca aceitou que eu simplesmente nunca seria exatamente como você sonhava, pensava em sua mais do que fértil imaginação. Para você, nada bastava. Não importava o que eu fizesse, nunca seria o bastante. Os outros sempre eram melhores. Ah, os outros. A grama do vizinho para você não era apenas mais verde, era praticamente um jardim encantado.Enquanto o seu era um deserto. Você não aceitava a minha companhia. Era motivo de dor, de tristeza, de agonia. De lágrimas, muitas e sentidas. De vontade de cortar os pulsos, de fazer o coração parar de bater, de simplesmente não existir. Acabei me tornando sua pior inimiga.

A vida te bateu forte. Bateu, rasgou, mastigou e cuspiu. Não só a vida, muitas pessoas te machucaram. Você mesma se causou tantas feridas que nem dá para contar. Tudo te deixou em pedaços. Em cacos que agora se tornaram pó. E agora, sendo pó, você está mais inteira do que nunca. Porque, em algum momento, quando a dor parecia insuportável, uma fagulha se acendeu. E você olhou para mim com compaixão. Depois com simpatia. Depois com empatia. Depois com amor. Finalmente o amor. Quando parecia que nunca viria. Quando parecia que você só aceitaria se ele viesse de outra pessoa. Mas ele veio. Lento, sereno, trazendo cura aos poucos. Chegou e ainda está chegando, crescendo, ocupando seu espaço, trazendo sopros de mudança. Obrigada por finalmente olhar para cada parte de mim com amor, com afeto, com bondade.

Obrigada por me dar o mais precioso dos presentes: a liberdade de ser quem eu sou, quem quero ser, e me amar por isso e apesar disso. Obrigada por, mesmo que aos poucos, tirar nos meus ombros vários pesos que você mesma colocou. Obrigada pelo carinho nos seus olhos ao me ver. Obrigada por, de tempos em tempos, parar e pensar em cuidar de mim. Obrigada por transformar dores e cicatrizes em força. Obrigada, querida. Eu te amo.


terça-feira, 24 de junho de 2014

A mim mesma

A pior solidão é a que se sente em uma multidão. Não em uma multidão de rostos desconhecidos, mas a que você sabe nomes, sobrenomes e até um pouco da vida de alguns. Você sabe que está chegando o momento de encontrá-los. Você respira fundo, tenta esvaziar a mente e colocar seu melhor sorriso no rosto - que, quando encontra outro sorriso de volta, é gélido e sem sentimentos, uma mera formalidade.

Você tenta ser legal, se enturmar. Busca o comum, mas o consenso é tão raro. Busca empatia, mas só acha apatia. Você tenta não se mostrar por inteiro, mas apenas o que acha mais aceitável. O seu verdadeiro eu fica nas sombras, fica em um quarto pequeno e escuro. Às vezes confortável, às vezes esmurrando as paredes, querendo sair. Porque tudo que você deseja é o que você não consegue: aceitação. Nem nunca conseguirá, e você sabe disso. Você é outsider, gauche por natureza.

Talvez as pessoas sintam o cheiro da sua mentira: você não é de se enturmar, porque sua turma é o Bloco do Eu Sozinho. Mas naquela multidão, o sozinho se torna solitário. A própria companhia não basta. E rejeição sempre fere, mesmo os mais acostumados. O que muda é só a intensidade da dor, essa companheira indesejável sempre tão presente, imperativa, pujante.

Faça sua força, tão fraca e acuada em um canto quanto uma criança de castigo, mais forte. Quem sabe ela não que traz aquela amiga que você nunca teve mas sempre quis, a coragem? Com essas duas, você poderá enfrentar qualquer multidão de rostos - e corações que talvez sejam de pedra, ou talvez simplesmente sejam de uma carne que não combina com a sua. E, no momento serão as melhores companhias que você pode ter. Além de, claro, você mesma. Em seu estado mais puro e leve, se possível.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Para Alice - 2


Alice,

Nesse momento você está dormindo, com a respiração difícil por causa de um resfriado, mas com o plácido rosto de anjo de sempre. Aproveitei seu sono e acabei de assistir a um filme chamado “Lemonade Mouth”, da Disney. É sobre uma banda de adolescentes, que usam a música pra se expressar. E cada um com um conflito familiar diferente.

Além de chorar com a história fofinha (sua mãe é uma manteiga, sorry), fiquei imaginando qual será o seu conflito de adolescência em relação a mim. Será que vai me achar mandona? Ausente? Que vai ter vergonha de mim por algum motivo? Princesinha, vai chegar a hora que você vai começar a enxergar mais profundamente meus erros. E vai me julgar. E desde já peço desculpas, mas fica a dica: você também não – embora para mim seja o mais próximo de pessoa perfeita que existe.

Ninguém é perfeito, amorzinho. Assim como nossa relação não é. Não se choque nem se magoe, mas várias vezes quando mais eu queria ficar sozinha era quando mais você queria minha atenção. Às vezes fui chata e abusada com você, me perdoe, meu amor. Não foi por mal. É que a mamãe é meio esquisita mesmo, gosta de ficar um tempo quieta, pensando. Não encare isso como desamor, nunca. Tenho por você o maior amor do mundo, minha filha. Do universo. Sempre.

Pois é, vendo o filme, comecei a temer o momento em que, quando sua adolescência chegar, você vai achar que me odeia, e vai querer ficar bem longe de mim. Vai ser uma dor imensa e agoniada para mim, mas juro que vou me esforçar o máximo para te entender. Porque essa fase faz parte da vida. Espero que ela seja o menos dura possível para nós três, e que seu pai e eu consigamos ser o que você precisa quando esse momento chegar. Aí vem a questão: o que você precisa nem sempre é o que você quer.

Como sua mãe, vou sempre achar que sei o que é melhor para você. E vou acertar na maioria das vezes, então me dê um crédito. Mas se eu errar feio, me mostre, mas com carinho, que sua mãe é sensível, viu? Eu briguei boa parte da vida com o seu avô Pedro porque o achava autoritário demais, protecionista demais. Mas quando você veio ao mundo, minha pequena, vi que ele apenas tinha convicção do que era melhor para mim. Nem sempre ele acertava, lógico. Mas só quando ele se foi tive a dimensão do quanto ele cuidava de mim e me protegia. Dói saber que eu deveria ter sido ainda mais grata a ele enquanto ele estava entre nós.

O problema é que os pais não conseguem acompanhar a velocidade com a qual os filhos mudam. A gente para na fase que vocês deixam a gente ficar mais pertinho, geralmente a infância. E, não importa a idade, filho sempre é um bebê para os pais. Portanto, se alguma vez eu te subestimar, me perdoe, filhota. É porque a mamãe sempre vai achar que é cedo, que você pode se machucar. Nunca será por achar você incapaz. Até porque, não sei como você será quando crescer, mas até o momento você se mostra uma criança extraordinariamente excepcional.

Você tem potencial para dominar o mundo, e fazer dele um lugar melhor, minha filha. E já faz. Uma vez, você disse para sua avó Lúcia que queria ser grande para cuidar das pessoas. Mal sabe você que já cuida, porque não tem quem não se contagie pela sua alegria e doçura. Se continuar assim, já estou mais que satisfeita, já vou achar que fiz bem meu papel de mãe.

Seu avô sempre me perguntava quando minha adolescência ia passar. Mando uma triste resposta para ele, lá para o céu: acho que nunca. Eu continuo abusada, contestadora, indecisa, dramática. Eu nem sei ainda direito o que quero ser quando crescer! Quer dizer, sei sim: a melhor mãe e esposa do mundo. O resto vou experimentando e tentando, até achar meu caminho. Aceite esse conselho: nunca desista de achar o seu caminho, e principalmente de se achar.  E se lembre sempre: estou ao seu lado, e dou minha vida pela sua felicidade. Te amo, meu amorzinho. Sempre e mais do que cabe neste mundo.

Beijos da mamãe