segunda-feira, 27 de julho de 2015

Para Roberta

Nós nunca tivemos uma boa relação. Por uma simples razão: você nunca me amou como eu sou. Nunca aceitou que eu simplesmente nunca seria exatamente como você sonhava, pensava em sua mais do que fértil imaginação. Para você, nada bastava. Não importava o que eu fizesse, nunca seria o bastante. Os outros sempre eram melhores. Ah, os outros. A grama do vizinho para você não era apenas mais verde, era praticamente um jardim encantado.Enquanto o seu era um deserto. Você não aceitava a minha companhia. Era motivo de dor, de tristeza, de agonia. De lágrimas, muitas e sentidas. De vontade de cortar os pulsos, de fazer o coração parar de bater, de simplesmente não existir. Acabei me tornando sua pior inimiga.

A vida te bateu forte. Bateu, rasgou, mastigou e cuspiu. Não só a vida, muitas pessoas te machucaram. Você mesma se causou tantas feridas que nem dá para contar. Tudo te deixou em pedaços. Em cacos que agora se tornaram pó. E agora, sendo pó, você está mais inteira do que nunca. Porque, em algum momento, quando a dor parecia insuportável, uma fagulha se acendeu. E você olhou para mim com compaixão. Depois com simpatia. Depois com empatia. Depois com amor. Finalmente o amor. Quando parecia que nunca viria. Quando parecia que você só aceitaria se ele viesse de outra pessoa. Mas ele veio. Lento, sereno, trazendo cura aos poucos. Chegou e ainda está chegando, crescendo, ocupando seu espaço, trazendo sopros de mudança. Obrigada por finalmente olhar para cada parte de mim com amor, com afeto, com bondade.

Obrigada por me dar o mais precioso dos presentes: a liberdade de ser quem eu sou, quem quero ser, e me amar por isso e apesar disso. Obrigada por, mesmo que aos poucos, tirar nos meus ombros vários pesos que você mesma colocou. Obrigada pelo carinho nos seus olhos ao me ver. Obrigada por, de tempos em tempos, parar e pensar em cuidar de mim. Obrigada por transformar dores e cicatrizes em força. Obrigada, querida. Eu te amo.