terça-feira, 24 de junho de 2014

A mim mesma

A pior solidão é a que se sente em uma multidão. Não em uma multidão de rostos desconhecidos, mas a que você sabe nomes, sobrenomes e até um pouco da vida de alguns. Você sabe que está chegando o momento de encontrá-los. Você respira fundo, tenta esvaziar a mente e colocar seu melhor sorriso no rosto - que, quando encontra outro sorriso de volta, é gélido e sem sentimentos, uma mera formalidade.

Você tenta ser legal, se enturmar. Busca o comum, mas o consenso é tão raro. Busca empatia, mas só acha apatia. Você tenta não se mostrar por inteiro, mas apenas o que acha mais aceitável. O seu verdadeiro eu fica nas sombras, fica em um quarto pequeno e escuro. Às vezes confortável, às vezes esmurrando as paredes, querendo sair. Porque tudo que você deseja é o que você não consegue: aceitação. Nem nunca conseguirá, e você sabe disso. Você é outsider, gauche por natureza.

Talvez as pessoas sintam o cheiro da sua mentira: você não é de se enturmar, porque sua turma é o Bloco do Eu Sozinho. Mas naquela multidão, o sozinho se torna solitário. A própria companhia não basta. E rejeição sempre fere, mesmo os mais acostumados. O que muda é só a intensidade da dor, essa companheira indesejável sempre tão presente, imperativa, pujante.

Faça sua força, tão fraca e acuada em um canto quanto uma criança de castigo, mais forte. Quem sabe ela não que traz aquela amiga que você nunca teve mas sempre quis, a coragem? Com essas duas, você poderá enfrentar qualquer multidão de rostos - e corações que talvez sejam de pedra, ou talvez simplesmente sejam de uma carne que não combina com a sua. E, no momento serão as melhores companhias que você pode ter. Além de, claro, você mesma. Em seu estado mais puro e leve, se possível.